sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Sobre Violência Parte I

  Bom dia :) Hoje eu finalmente darei os retoques finais no presente pro Kamelot, irei pegar o desenho e fazer as impressões devidas. Foi com esse pensamento que fui dormir, feliz da vida, afinal, amanhã é o dia em que irei conhecer a banda e ver o show. E eis que sou desperta por uma notícia não muito agradável. Um assalto! Sim, é um plot twist, é uma surpresa! Eles gritam: passa tudo! E não existe tempo pra outra reação senão, passar tudo. E a gente agradece porque alguém teve a mercê de nos deixar viver. Agradecer por não ter feito nada de mal pra nós(exceto ter tirado tudo que foi comprado com muito trabalho e esforço). Agradecer...

  Viver aonde eu moro não é fácil, não por causa do bairro, mas por causa do Estado, por causa do país, por causa de tudo. Fui acordada pela notícia de que a minha mãe tinha sido assaltada, indo pro trabalho. Minha mãe é tipo magnata do bairro onde eu moro, ela tem emprego de Ryca, ela é professora. Todos sabem que professor é profissão de ryco aqui no Brasil. Ganham no mesmo piso salarial que jogador de futebol, mais até que político, vê se pode! E ainda querem reinvidicar aumento e melhores condições de trabalho todo ano. É por isso que todo ano é negado. Vivemos num país justo!

  A minha família vive no maior luxo! Como vivemos nessa nação em que professores ganham bem, moro numa mansão. Podemos comer em restaurantes todo dia, nossas roupas custam mais caro que salário mínimo. Todos temos carros, e eu tenho uma mesada "gorda". Temos uma equipe de empregados e um monte de aparelhos importados. Viajei pelo mundo todo. Claro, com o salário da minha mãe, temos que aproveitar né? haha

  Então, agora sem a máscara da ironia, vamos conversar. Minha mãe é professora sim, e trabalha todo dia, o dia todo. Ela faz parte do sustento daqui. Tinha acabado de comprar um celular novo porque os outros "morreram". É claro que estou com raiva.

  Não porque pertencemos a classe trabalhadora mas porque além de sermos explorados pelo governo, somos explorados por quem "não teve oportunidade na vida". Sabe como que se vence esse abandono social gerado por anos de preconceito e um governo mau-organizado? Lutando pra mudar. Se a vida não te dá oportunidades, tente mesmo assim. Ou vocês acham que eu realmente sou ryca e não to preocupada em batalhar pelo meu futuro estando na faculdade de Belas Artes? E ainda tem mais, se a pessoa tiver uma situação melhor que a minha, trabalha menos pra conseguir mais dinheiro em um dia que eu conseguiria em um ano, isso justificaria ela ser assaltada? Ter dinheiro e boa situação é desculpa pra você ser roubado na rua? NÃO! Seja o pedreiro que faz obras aqui em casa ou a Fernanda Montenegro, o assalto nunca é justificável pelo ladrão ser uma vítima.

  O ladrão é uma vítima do seu próprio preconceito. É vítima da sua própria mente limitada. É alguém fraco de  mente que de repente tem poder sobre a vida dos outros porque tem uma arma. Isso porque a sociedade brasileira não foi formada a partir da honra. Sinto muito, mas é a verdade. Nossos valores intrínsecos tem preço. Pode ser formando uma nova religião que pede porcentagem do salário dos fiéis. Pode ser por causa do "jeitinho brasileiro". É político que tira dinheiro de hospital e de quem precisa. Ahhhhhh! Não dá pra viver assim!

  Trabalhamos para dar dinheiro pro governo, pra pegar transporte público lotado e em condições precárias. Trabalhamos para sustentar uma família e eventualmente bandidos sem oportunidade que aparecem por aí. É até um insulto, por existem pessoas que não tiveram nada, mas se recusam a entrar para a vida do crime, e construíram as próprias batalhas para tentar chegar a algum lugar.

  Engraçado mesmo foi o ladrão ter levado a bolsa da minha mãe ryca e lá não tinha dinheiro, tinha contas para pagar. São coisas que a pobre criatura sem oportunidade não tem que se preocupar. O sustento dele é a apropriação do trabalho dos outros. A diferença é que ele grita: "Perdeu! Perdeu!" enquanto outros gritam: "Então dêem seu dinheiro para Deus, para garantir sua entrada no Céu!" e outros também gritam: "Ah gente, não vamos fazer manifestação não né? A Copa é um evento tão legal que vocês deveriam agradecer por sermos a cede desse ano. Não tem nada do que reclamar. Só agradeçam. Agradeçam pela Copa, pelas obras atrasadas com custos maiores do que a gente usa para tentar mudar o lugar que vocês vivem. Agradeçam pelos taxis que só usam a tabela, pra que uma corrida de RS 36,00 se transforme em quase RS 50,00. Agradeçam por pouparmos suas vidas."

  Enquanto tem adolescentes formando gangues para bater nos ladrões, uma jornalista dá um depoimento polêmico sobre o ocorrido, a polícia diz: "você quer dar parte mesmo dessas pessoas que te perseguiram porque ACHARAM que você é GAY? Isso não vai dar em nada", é mais importante nos sentarmos atras de uma tela de computador e fingirmos que somos os senhores absolutos da verdade. De uma lado ouço gente falando: "ah mas é um problema social, não podemos sair por aí espancando e humilhando as pessoas que fazem pior com a gente, e pior ainda se você é mulher andando sozinha na rua." e do outro eu escuto: "Tem que bater mesmo! Brasil tinha que ter pena de morte! Tem que humilhar esses bandidos. Aproveita e bate nos negros, moradores de rua e quem a gente julga que é gay só com o olhar!"

  Mas tudo que consigo ouvir é a minha mãe ligando pra cancelar cartão e tudo mais, e me pergunto: Eu preciso de alguém que seja o que preciso, não o que quero, pra resolver essa situação. Batman, cadê você?

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